segunda-feira, 18 de outubro de 2010


O Navio da Discórdia

Era um navio tão bonito sabe? Daqueles que toda criança sonhava em morar ou pelo menos passar as férias. Não era tão grande assim, mas era pomposo, luxuoso e acolhedor. Nunca faltava nada e se faltasse, nem dava tempo para perceber com a infinidade de outros entretenimentos. Era de dar inveja. Talvez essa inveja tenha contaminado o navio. Sei lá, não tem outra explicação. Com um tempo, os almirantes começaram a brigar sem nenhuma trégua. Os marujos colocavam panos quentes, evitavam alguma briga, faziam vista grossa. Só que em alguma hora se faz necessário limpar o convés. Que inocentes eles eram! Achavam que escondendo a sujeira debaixo do tapete estavam limpando o navio. Muito pelo contrário, juntando as poeiras, se tem um trabalho mais árduo para retirar toda a sujeira depois. Brigavam, brigavam mesmo. Sem trégua, sem choro, nem vela. Até que um deles pediu demissão. O outro não sabia se concedia ou se recusava. Era uma situação difícil. Jogar fora tantos anos de convivência no lixo e tantos anos de experiência marítima por causa de algumas brigas? Tá, algumas não, constantes brigas. Mesmo assim. Eles tinham algo em comum, amavam o mar acima de todas as coisas e tinham um enorme carinho pelos seus marujos. Diante de tanta confusão, o navio aos poucos ficava esquecido. Começou com um buraquinho pequeno. Foi crescendo, tomando forma e proporção até que chegou num momento que não dá mais pra estancar. Ou será que dá? O navio vai afundar, porém os almirantes estão muito ocupados discutindo para se preocupar com o navio. E eu? Sou apenas um mero marujo que não sabe se abandona o barco ou salva o navio de perecer no fundo do oceano.

Raul Colaço

Esse texto eu vi no blog de Raul Colaço, feito por ele mesmo!
Não, eu não o conheço, mas se alguém que estiver lendo aqui conhecê-lo , dê os parabéns, eu amei o texto!
Foto: Pré-Jabá!

32 dias (yn)

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