Era um navio tão bonito sabe? Daqueles que toda criança sonhava em morar ou pelo menos passar as férias. Não era tão grande assim, mas era pomposo, luxuoso e acolhedor. Nunca faltava nada e se faltasse, nem dava tempo para perceber com a infinidade de outros entretenimentos. Era de dar inveja. Talvez essa inveja tenha contaminado o navio. Sei lá, não tem outra explicação. Com um tempo, os almirantes começaram a brigar sem nenhuma trégua. Os marujos colocavam panos quentes, evitavam alguma briga, faziam vista grossa. Só que em alguma hora se faz necessário limpar o convés. Que inocentes eles eram! Achavam que escondendo a sujeira debaixo do tapete estavam limpando o navio. Muito pelo contrário, juntando as poeiras, se tem um trabalho mais árduo para retirar toda a sujeira depois. Brigavam, brigavam mesmo. Sem trégua, sem choro, nem vela. Até que um deles pediu demissão. O outro não sabia se concedia ou se recusava. Era uma situação difícil. Jogar fora tantos anos de convivência no lixo e tantos anos de experiência marítima por causa de algumas brigas? Tá, algumas não, constantes brigas. Mesmo assim. Eles tinham algo em comum, amavam o mar acima de todas as coisas e tinham um enorme carinho pelos seus marujos. Diante de tanta confusão, o navio aos poucos ficava esquecido. Começou com um buraquinho pequeno. Foi crescendo, tomando forma e proporção até que chegou num momento que não dá mais pra estancar. Ou será que dá? O navio vai afundar, porém os almirantes estão muito ocupados discutindo para se preocupar com o navio. E eu? Sou apenas um mero marujo que não sabe se abandona o barco ou salva o navio de perecer no fundo do oceano.
Raul Colaço
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